Você acredita que nós evoluímos ao longo da nossa experiência na Terra?
Eu acho que a nossa mente cria algumas crenças que nos aprisionam, mas essas crenças não são exatamente assim. Uma dessas crenças é que a gente evolui.
Eu sei que existem muitas pessoas que acompanham o meu trabalho e acreditam nisso, que o ser humano melhora.
Eu também super acreditava nisso. Eu até fiz umas aulas para os meus alunos do Manual da Organização Interna (MRI) nas quais eu explico uma teoria maravilhosa, uma teoria incrível que se chama “Teoria da Evolução da Consciência”. Mas ela é só isso mesmo: uma teoria.
E por que eu não acredito muito que o ser humano evolua?
A minha experiência pessoal é que eu acreditava ferozmente na evolução da consciência e nessa coisa que a gente vai ficando cada vez melhor até que um dia a gente fica super melhor e se ilumina. Eu realmente acreditava nisso.
E, por isso, eu ia atrás das pessoas que eu achava que tinham se iluminado. Eu ia atrás de métodos. Estudei muito. Fui andar pelo mundo tentando aprender mais sobre isso: como é que a gente faz para evoluir mais e mais rápido? Quem são as pessoas que já se iluminaram? Como eu faço para fazer igual a elas? Essa era a minha vida.
Mas, lentamente, comecei a desconfiar que as coisas não são bem assim. Comecei a me questionar: será que a gente evolui mesmo e, um dia, simplesmente vira outra coisa? Será que é desse jeito?
Eu comecei a ficar com a famosa “pulga atrás da orelha”.
Como já contei para vocês, eu rodei pelo mundo e conheci muitos professores espirituais. Hoje, eu conheço pessoalmente umas 15 pessoas que atingiram o estado de “ser felicidade”, o estado de paz interior. É um estado em que está tudo bem, não importa o que esteja acontecendo. Por que, na real, não está acontecendo muita coisa.
Conheci algumas pessoas que vivem assim e entrevistei-as. Eu perguntei: como é que você chegou nesse lugar? Dessas 15, umas três ou quatro me disseram: “Olha, eu fiz o que o meu professor espiritual me mandou fazer. Eu meditei muitas horas por dia, fiz uma série de exercícios e, um dia, eu entendi e cheguei num outro nível de consciência”. Algumas pessoas disseram isso. Outras afirmaram que simplesmente entenderam que o ser humano era outra coisa.
Uma professora espiritual, a Byron Katie, da Califórnia, nos Estados Unidos, me disse assim: “Eu entendi a piada”. Ela vinha de um sofrimento horroroso, de um estado de depressão. Ela também tinha sido diagnosticada como uma paciente violenta e agressiva. E, nesse estado profundo de depressão, ela entendeu outra coisa. E ela fala exatamente isso: “Entendi a piada cósmica”.
Outro que é assim é o Eckhart Tolle, autor do sucesso mundial “O poder do agora”. Ele conta que estava no pior dia da vida dele e, de repente, entendeu que o ser humano é dois ao mesmo tempo.
Quando eu entrevistei essas pessoas e descobri a história delas, eu comecei a desconfiar que esse papo de evolução tinha alguma coisa fora do lugar. Talvez não fosse bem assim.
Então, em 2017, eu tive uma Experiência de Quase Morte (EQM). Quem me acompanha já me ouviu falar disso. Eu tinha tomado uma medicação endovenosa e tive uma reação alérgica, entrei em contração e, de repente, estava fora do meu corpo. Olhei para baixo e vi meu corpo, vi o médico e logo pensei: “É, morri”.
Aí eu tive aqueles estágios que contam que as pessoas que morrem têm. Eu vi minha vida passar diante dos meus olhos. Vi uma escuridão e, no fim dela, tinha uma luz brilhante. Mergulhei nessa luz. E, lá dentro, eu senti plenamente o tal “ser felicidade”. Absolutamente sem nenhuma dúvida e sem espaço para qualquer outra coisa, apenas paz e amor. Só eu, mas um eu tão grande que abrangia tudo que existe. Fiquei nisso um pouquinho e aí surgiu outro eu e disse: “Volte para o seu corpo que você vai ficar bem”. E eu retornei.
Mas, quando voltei, não tinha pensamento na minha cabeça. Tinha só o estado de presença. E eu conheci o que é “ser felicidade”.
Mas esse estado de “ser felicidade” é sobre o que você já é. Por isso que eu acho que essa história de evolução não é bem assim. Ela está mal contada.
A minha percepção é que todos os seres humanos somos dois em um. E isso se chama paradoxo. Paradoxo significa duas verdades que acontecem simultaneamente e aparentemente são opostas.
As duas verdades em nós são as seguintes: quem sou eu? Eu sou um ser espiritual, eterno e perfeito, em unidade com tudo o que existe. Sou o amor incondicional, sou a paz profunda, sou a sabedoria. Sou o poder de manifestação do universo. Essa é uma das verdades. E nela não existe tempo porque eu sou a eternidade. Não existe espaço porque eu sou infinito. É um ponto que significa tudo o que há, e ele já é.
Isso tudo é o Eu Sou. O Eu Sou utiliza outra coisa, que é uma pessoa – a segunda verdade. Essa pessoa, o ser humano, é um ego, um personagem nessa história. E o personagem é o oposto total do Eu Sou da primeira verdade.
Nós somos perto de 7 bilhões de seres humanos neste planeta e todo mundo é diferente. Temos impressões digitais diferentes, por exemplo. Íris diferente, cor da pele diferente, culturas diferentes, crenças diferentes, tudo diferente. E a gente não se entende muito bem. Somos cheio de emoções e medos. Somos prisioneiros do tempo. Nascemos, vivemos uma história e morremos. Tudo oposto ao Eu Sou da primeira verdade.
E essas duas verdades coexistem em cada um de nós.
E a mente, nosso cabeção, pertence a qual dos dois? É óbvio que a mente pertence ao personagem, à pessoa, ao ego.
E essa mente te ilude. Ela te diz assim: “Eu tenho que evoluir para chegar lá no ponto do Eu Sou. Eu tenho que melhorar. Eu tenho que ser outra coisa para chegar lá”.
Mas, se você é as duas coisas ao mesmo tempo, então você já é o Eu Sou. Portanto, não é necessário evoluir para chegar lá porque este Ser sempre será quem você é. Quando a mente te massacra dizendo que você tem que evoluir, ela acaba com você. E você fica triste, doido, confuso e cheio de problemas porque você quer ser outra coisa.
Só que esta coisa que você busca ser não virá com você transformando o personagem porque ele é o que ele é. O jeito certo é se identificando com a sua realidade, com quem você é, com este Ser. Essa realidade ama, não importa quem seja o personagem.
Então, a tal da autoaceitação, o tal do amor próprio e tanta coisa que a gente quer por nós mesmos você não atinge dentro desse personagem. Você precisa, na verdade, se identificar com quem você é, e aí você ama e aceita o personagem que você habita.
Por isso é que “ser felicidade” é o que você já é. Você não tem que ir pra lugar algum. Você não tem que buscar nada. Você não tem nada para aprender. Você não precisa nada.
Você já é!